Para investir ou morar, imóvel é agora
Depois de passar meses
difíceis em 2020, por conta da pandemia do coronavírus, o mercado imobiliário
conseguiu sair fortalecido e inicia 2021 com boas perspectivas. A queda na taxa
de juros, que deixou o mercado financeiro menos atrativo e reduziu as parcelas
dos financiamentos, voltou a atrair consumidores e investidores para a compra
de imóveis. Além disso, o isolamento social fez muita gente antecipar os planos
de um upgrade na casa própria e elevou a demanda por uma segunda moradia.
A
pandemia trouxe reflexos positivos e negativos e provocou muitas mudanças no
mercado imobiliário. Entre os efeitos preocupantes estão a alta e escassez dos
insumos para construção civil. O gerente comercial e especialista em Direito
Empresarial e Imobiliário, Felipe Melazzo, lembra que isso foi consequência do
lockdown, quando a indústria desacelerou a produção. “Como as construções foram
retomadas de forma acelerada, o mercado ficou desabastecido. ” Mas ele acredita
que a situação está se normalizando.
Do
lado positivo, o maior impacto veio mesmo da queda na taxa básica de juros, que
saiu de 6,5% em agosto de 2019 para 2% em 2020. Isso fez com que o investidor
saísse em busca de opções mais rentáveis no mercado. “A locação passou a ser
mais interessante, quando comparada ao retorno de outros investimentos do
mercado financeiro”, explica o sócio da URBS Imobiliária, Ricardo Teixeira.
Foi
o futuro retorno com o aluguel que motivou a pedagoga Josiane Lacerda a
investir R$ 350 mil num apartamento em construção no Setor Bueno. Ela acredita
que a boa localização e o padrão do imóvel, um compacto de luxo de um quarto,
proporcionarão uma renda mensal entre R$ 2.100 e R$ 2.300, mais rentável e
segura que outras aplicações. “Além disso, acho que ainda terei uma boa
valorização quando o imóvel ficar pronto, em 2024”, prevê.
Já
o comprador do imóvel próprio viu uma oportunidade de pagar prestações mais
baixas, dentro de seu orçamento. Ricardo Teixeira lembra que cada ponto
porcentual a menos nos juros do financiamento resulta numa parcela 20% menor na
compra da casa própria, elevando o número de compradores. Para ele, mesmo que o
governo aumente a taxa de juros para conter a inflação em 2021, ela deve
continuar atrativa e a manter o mercado aquecido.
Isso
por conta de demanda orgânica, em virtude do bônus demográfico no Brasil,
quando a população em idade economicamente ativa é maior do que a de idosos e
crianças. “A tendência é que a demanda continue alta por Goiânia ser uma
capital muito jovem”, ressalta Teixeira.
Muita
gente que postergava a decisão de se mudar para um imóvel melhor também
antecipou os planos depois de ficar muito mais tempo em casa. Uma tomada de
decisão, que antes levava cerca de um ano, foi acelerada. Para o diretor
comercial da Elmo Engenharia e Incorporações, Guilherme de Rezende Pinheiro, o
lockdown despertou as famílias para a qualidade do imóvel onde se vive. “A
busca pelo conforto e sofisticação se tornou mais objetiva. As pessoas estão
dispostas a investir mais para atender suas necessidades, e não por status”,
avalia.
Melhor venda
De
acordo com a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias, o segmento
de médio e alto padrão cresceu no Brasil a partir de maio e julho foi o melhor
mês em vendas desde maio de 2014, com 34,8% de incremento sobre o mesmo mês em
2019. O distanciamento social praticamente institucionalizou o home office e os
condomínios horizontais passaram a ser mais demandados por aliarem liberdade e
segurança. O diretor da Tropical Urbanismo, Antônio Carlos da Costa, diz que
ambientes ao ar livre ganharam importância sanitária. Para ele, o comportamento
do consumidor tende a seguir em 2021 com a consolidação do trabalho remoto.
Economia ditará o
ritmo da retomada
Logo
após a flexibilização das medidas de isolamento social, o mercado imobiliário
iniciou sua retomada. De acordo com a Associação das Empresas do Mercado
Imobiliário de Goiás (Ademi-GO), mesmo depois de meses difíceis, no acumulado
de janeiro a outubro, as vendas já estavam 10% acima do mesmo período de 2019.
Para os representantes do setor, com a volta dos investidores, a manutenção do
crescimento é praticamente certa este ano, mas a intensidade da retomada
dependerá do comportamento da economia, do emprego e renda.
O
presidente da Ademi-GO, Fernando Razuk, acredita que a taxa básica de juros não
deverá ultrapassar os 3% ao ano em 2021, o que ajudará a manter a demanda em
alta por conta do menor valor da parcela. Ele lembra que com a taxa de juros em
2% ao ano e a inflação na casa dos 5% resulta num rendimento negativo para a
maioria das aplicações financeiras, o que também mantém o investidor no
mercado.
“Além
da segurança, o investidor já vê um melhor retorno nas locações de imóveis, que
oscilam entre 0,5% e 1% ao mês, bem superior às aplicações mais conservadoras”,
destaca Razuk. Apesar de ter melhores perspectivas de rentabilidade, a bolsa de
valores ainda oscila muito num cenário de pandemia, o que reduz a segurança e
afugenta um pouco os investidores mais conservadores. Além disso, a perspectiva
é de valorização dos preços por conta da alta nos insumos e na demanda.
O
presidente da Ademi-GO acredita que o setor da construção ajudará o País a
manter a retomada por conta dos lançamentos programados para este ano, que vão
gerar um bom volume de obras. Ele também ressalta a necessidade das reformas
estruturantes, “que precisam ser feitas para aumentar a confiança, atrair
recursos externos e a economia deslanchar”.
Fonte: Jornal O Popular