Copom reduz Selic para 3,75% ao ano
Em meio à crise econômica decorrente da pandemia do novo corona
vírus, o Banco Central (BC) diminuiu os juros básicos da economia pela sexta
vez seguida. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a
taxa Selic para 3,75% ao ano, com corte de 0,5 ponto percentual.
A decisão surpreendeu os analistas financeiros. Segundo a pesquisa Focus do
BC, a maior parte dos agentes econômicos esperava a redução dos
juros básicos para 4% ao ano nesta reunião e um corte adicional, para 3,75%,
antes do fim de 2020.
Em comunicado, o Copom justificou que os dados apontavam para uma
recuperação gradual da economia, mas que os parâmetros atuais ainda não
refletem o agravamento da crise provocada pelo corona vírus. Entre os fatos
imprevistos, o BC citou a desaceleração significativa do crescimento global, a
queda do preço das commodities (bens primários com cotação
internacional) e o aumento na volatilidade dos ativos financeiros.
A decisão do Federal Reserve – Banco Central norte-americano – e dos
principais bancos centrais do planeta, que reduziram juros nas maiores
economias mundiais nos últimos dias, abriu espaço para a redução maior que o
esperado. Nos Estados Unidos, os juros básicos foram zerados na noite de
domingo (15), para baratear o crédito na maior economia do planeta em meio à
ameaça de recessão econômica global.
Com a decisão de hoje (18), a Selic está no menor nível desde o início
da série histórica do Banco Central, em 1986. De outubro de 2012 a abril de
2013, a taxa foi mantida em 7,25% ao ano e passou a ser reajustada gradualmente
até alcançar 14,25% ao ano em julho de 2015. Em outubro de 2016, o Copom voltou
a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegasse a 6,5% ao ano em
março de 2018, só voltando a ser reduzida em julho de 2019.
Inflação
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob
controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA). Nos 12 meses terminados em fevereiro, o indicador
fechou em 4,01%, o maior resultado anual desde 2016. A inflação,
que tinha subido no fim do ano passado por causa da alta da carne e do dólar,
agora deve cair mais que o previsto por causa das interrupções da produção e do
consumo provocadas pela Covid-19.
Para 2020, o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabeleceu meta de
inflação de 4%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA,
portanto, não poderá superar 5,5% neste ano nem ficar abaixo de 2,5%. A meta
para 2021 foi fixada em 3,75%, também com intervalo de tolerância de 1,5 ponto
percentual.
No Relatório de Inflação divulgado no fim de dezembro
pelo Banco Central, a autoridade monetária estima que o IPCA continuará abaixo de
4% nos próximos anos, atingindo 3,5% em 2020 e 3,4% em 2021 e
2022. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com
instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o
ano em 3,1%, mas as estimativas deverão continuar a cair nos
próximos levantamentos.
Firjan
A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) se manifestou em
nota, pedindo uma redução ainda maior na Selic. "A decisão do Copom não é
compatível com a dimensão da crise pela qual o país está passando. O cenário
atual exige políticas que ofereçam estabilidade monetária e financeira para
sustentar a economia e mitigar qualquer problema futuro de liquidez. Uma
política monetária insuficiente agravará ainda mais os efeitos negativos
causados pela pandemia de corona vírus, com custos sociais elevados para todo o
país. Eventos fora do padrão exigem medidas fora do padrão", se manifestou
a entidade.
Crédito mais barato
A redução da taxa Selic estimula a economia porque juros menores
barateiam o crédito e incentivam a produção e o consumo em um cenário de baixa
atividade econômica. No último Relatório de Inflação, o BC
projetava expansão da economia de 2,2%
para este ano. No entanto, a previsão tinha sido feita antes do
agravamento da crise provocada pelo corona vírus.
O mercado já projeta crescimento mais baixo. Segundo a última edição do
boletim Focus, os analistas econômicos preveem crescimento
de 1,68% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e
serviços produzidos pelo país) em 2020.
A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos no
Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as
demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima, o Banco Central
segura o excesso de demanda que pressiona os preços, porque juros mais altos
encarecem o crédito e estimulam a poupança. Ao reduzir os juros básicos, o Copom
barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas enfraquece o
controle da inflação. Para cortar a Selic, a autoridade monetária precisa estar
segura de que os preços estão sob controle e não correm risco de subir.