Casa própria: taxa de crédito imobiliário se aproxima do menor nível da história
Com a inflação sob controle e
a perspectiva de novos cortes nos juros básicos da economia até o fim do ano, a
taxa cobrada de quem busca o crédito imobiliário caminha a passos largos para o
menor nível da história --o que pode ocorrer já em 2020, segundo analistas do
setor. Essa expectativa foi impulsionada pela maior concorrência entre os
bancos e pela retomada dos financiamentos da Caixa Econômica Federal neste ano.
O movimento já se reflete em alta de vendas e lançamentos.
A previsão de redução das taxas
de financiamento imobiliário acompanha as quedas da Selic, os juros básicos,
hoje em 6% ao ano. A maior parte do mercado financeiro prevê que a taxa caia
para 5% ao ano até o fim de 2019, enquanto os mais otimistas falam em 4,75.
Assim, o juro médio dos empréstimos
para compra da casa própria ficou em 7,73% ao ano em junho, conforme dados do
Banco Central (BC), que consideram financiamentos para pessoas físicas com
recursos direcionados. É um nível parecido com o de fevereiro de 2013, o mais
baixo da série, quando estava em 7,69%. Naquela época, porém, a Selic foi
cortada para 7,25% ao ano, em um movimento considerado "artificial"
--tanto é que o juro baixo não durou muito tempo, e a taxa voltou a subir logo
em seguida.
Agora, no entanto, o cenário é
diferente: bancos e construtoras acreditam que um novo piso histórico nos juros
do crédito imobiliário deverá acontecer naturalmente, graças ao ajuste fiscal
em curso no país, à inflação baixa e à tendência de novos cortes na taxa Selic.
"Se o Banco Central confirmar
a expectativa atual de baixar ainda mais a Selic, é natural que haja adequação
das taxas de juros do financiamento", avalia o economista-chefe do
Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Celso Petrucci.
O setor estima que a redução
de cada ponto porcentual nos juros básicos represente um desconto de 7% a 8% na
parcela do financiamento, o que significa que ela passa a caber no bolso de
mais consumidores. "Em São Paulo, são vendidos de 25 mil a 30 mil imóveis
novos por ano. Em alguns anos, esse patamar poderia subir para 40 mil",
estima o analista de mercado imobiliário do banco BTG Pactual, Gustavo
Cambauva. Também está no horizonte o novo modelo de crédito para a casa
própria, que substitui a Taxa Referencial (TR), hoje zerada, pela inflação corrigida
pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em 3,22% nos últimos 12 meses
até julho. O modelo deve entrar em vigor nos próximos dias, segundo
o presidente da Caixa, e a expectativa do setor é que a mudança abra espaço
para juros menores.
O copresidente da MRV
Engenharia, Rafael Menin, diz acreditar que o mercado nacional poderia até
dobrar de tamanho em dez anos, caso haja redução dos juros do financiamento
associada ao crescimento sustentável do Produto Interno Bruto (PIB) e à
estabilidade política.
"Em uma década, o mercado
pode sair do patamar de produção de 600 mil imóveis por ano para um degrau de
mais de 1 milhão de unidades por ano", calcula Menin. A construtora vem
ampliando os negócios e espera chegar a 50 mil unidades lançadas neste ano. A
fisioterapeuta Thaís de Oliveira Braga, de 32 anos, e o marido, o funcionário
público Fabio Barbosa Gomes, 38 anos, aproveitaram a queda nas taxas para
comprar um apartamento para a família. "Havia ouvido no rádio que este era
o melhor momento dos juros imobiliários. Então, falei: Fabio, é agora”
Eles procuraram na internet um
imóvel que se encaixasse no orçamento e escolheram um empreendimento na zona
norte de São Paulo. No fim do mês passado, o casal deu uma entrada de R$ 160
mil e iniciou o processo de financiamento. O restante do valor do apartamento
--o total é de R$ 300 mil-- vai ser pago em 420 meses, com uma taxa de juros de
7,99%.
Crise
lá fora
Apesar do cenário positivo
para o setor, a perspectiva de uma nova crise econômica internacional, que se
desenha no horizonte, poderia fazer com que o Brasil voltasse a subir a taxa
Selic e, por consequência, a taxa cobrada no financiamento imobiliário
aumentasse.
A crise internacional entrou
no radar nos últimos dias, após uma sinalização de juros de longo prazo mais
baixos nos Estados Unidos, o agravamento da guerra comercial entre americanos e
chineses e a previsão de menor crescimento mundial.
O diretor de Economia da
Anefac (associação que reúne executivos de finanças), Roberto Vertamatti, estima
que, se o cenário de crise internacional se confirmar, ela pode se refletir no
Brasil, levando a uma desvalorização do real ante o dólar e a uma resposta do
Banco Central no aumento dos juros.
Ele avalia que uma nova crise
poderia ser particularmente ruim para o Brasil, em um momento em que o país
começa a dar os primeiros sinais de recuperação. "A crise internacional
poderia comprometer os resultados do PIB de 2020 e 2021."
Já o coordenador do MBA de
gestão financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ricardo Teixeira, pondera
que, embora possa haver mudança no cenário internacional, isso não deve ocorrer
em menos de um ano.
Ele estima, portanto, que há
uma janela para que os juros do financiamento fiquem mais baixos. "É mesmo
um bom momento para financiar. Na pior das hipóteses, o consumidor terá até o
ano que vem para aproveitar as taxas." (Colaboraram Erika Motoda e Douglas
Gavras)
As informações são do jornal O
Estado de S. Paulo.