'Caixa terá nova taxa de juros no crédito imobiliário', diz Nelson de Souza
A Caixa
Econômica Federal vai reduzir ainda neste mês os juros do crédito imobiliário
que utiliza recursos da caderneta de poupança. O corte, no entanto, não levará
o banco a oferecer, novamente, as taxas mais baixas do mercado. "Não
podemos botar banca se não tivermos condição", disse Nelson Antônio de
Souza, novo presidente da instituição financeira, em sua primeira entrevista
desde que assumiu o comando do banco há uma semana no lugar de Gilberto Occhi,
que foi deslocado para o Ministério da Saúde.
O movimento
da Caixa de cortar os juros para o financiamento da casa própria vem com atraso
em relação aos concorrentes privados que começaram a reduzir as taxas à medida
em que o Banco Central cortou a Selic, taxa básica de juros da economia. Entre
os maiores bancos do País, a Caixa é o único que ainda cobra juros de dois
dígitos no crédito imobiliário.
A
redução já estava em estudo na gestão de Occhi, mas foi impulsionada com a
recente decisão do BC de diminuir os depósitos compulsórios - dinheiro que os bancos
são obrigados a deixar parado no Banco Central, sem poder usar para novos
empréstimos, por exemplo. Leia a seguir trechos da entrevista concedida ao
O senhor tem menos de um ano de gestão no
comando da Caixa, considerando que o Governo mude nas próximas eleições. O que
dá tempo de fazer?
Primeiro, é dar continuidade ao trabalho que o
(Gilberto) Occhi vinha fazendo e que permitiu um lucro considerável ao banco no
ano passado, de R$ 12,5 bilhões (no critério ajustado). Mas eu diria que
trabalhar em áreas que tenham um balanço social forte, que é o caso da
habitação. Vejo também que as PPPs (parcerias público privadas) são outra saída
que podemos chegar, mas não sei se teríamos um resultado já em 2018. E sempre
colocando esses produtos para setores que gerem emprego e renda. Esse é o foco.
Em harmonia com o Conselho de Administração sob o ponto de vista de utilizar
uma política de governo sem, contudo, abrir mão da governança e da consistência
de resultados econômicos e financeiros da Caixa.
E a redução de juros nas linhas de crédito
imobiliário que usam recursos da caderneta de poupança vem quando?
Vamos anunciar o mais breve possível. Nesta
semana já não dá mais, mas ainda em abril nós queremos divulgar a nova taxa de
juros da Caixa no crédito imobiliário.
A
Caixa vai voltar a ter a taxa mais atrativa do mercado?
Eu diria que a Caixa vai ter taxas compatíveis ao mercado. Não gosto muito de dizer que é a menor. Nós só podemos botar banca se tivermos condições.
A
mudança nos depósitos compulsórios ajuda o movimento de redução dos juros no
crédito imobiliário?
Vai nos dar um fôlego. A mudança no compulsório
melhorou a nossa tomada de divisão, mas já vínhamos estudando.
O
que o 'banco da habitação' espera para este setor em 2018?
Temos uma meta de (financiar) 650 mil unidades
de habitação neste ano e estamos avaliando o que podemos fazer até para
aumentá-la sem perder de vista o capital (do banco). Teremos de fazer escolhas
dentro da ponderação de risco. Nosso foco é habitação.
A concorrência está avançando na fatia da
Caixa, aproveitando que o banco precisa de um reforço de capital para fazer
frente ao risco dos empréstimos. É possível recuperar mercado?
Os bancos privados estão mais agressivos porque
têm uma disponibilidade maior de recursos e estão mais confortáveis em termos
de capital. Então, eles têm um poder maior que o da Caixa. Agora, a Caixa ainda
tem a maior participação de mercado mesmo nas linhas de SBPE (Sistema
Brasileiro de Poupança e Empréstimo) e está estudando como pode trabalhar em
cima disso. Em 2018, acho que já poderemos começar a trabalhar as letras
imobiliárias garantidas (chamadas LIGs), que reforçam o crédito para habitação.
O
sr. está prevendo alguma mudança no plano estratégico da Caixa?
Estamos trabalhando sábado, domingo, de manhã,
de tarde e de noite para apresentar nosso planejamento estratégico na próxima
semana. Não fechamos o plano ainda. Mas vamos trazer temas novos. O prazo (de
gestão) é exíguo. Temos de correr.
O
direcionamento da Caixa muda com a troca de presidente?
Nesse
aspecto, não. Vamos trabalhar em perfeita harmonia com o nosso controlador, o
Ministério da Fazenda e o Conselho de Administração da Caixa.
Em termos de capital, a mudança no depósito
compulsório traz algum alívio para a Caixa?
Não
influencia em capital, mas coloca recursos no orçamento. Do lado do capital,
sabemos que a partir de janeiro temos outra exigência de Basileia III, com o
capital de nível 1 indo para 9,5% (ou seja: as regras internacionais ficarão
mais rígidas). No nosso plano de capital de 2017, fizemos um bom dever de casa
com a decisão da equipe econômica, com o nosso Conselho de Administração e o
governo federal de manter os dividendos de 2017 na Caixa. Teremos um fôlego.
Está
prevista alguma troca na vice-presidência da Caixa?
Ainda não conversei sobre isso com a presidente do Conselho de Administração (Ana Paula Vescovi). As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".