Banco Central reduz Selic em 0,75 ponto e juros vão a 2,25% ao ano
Comitê
não descarta mais cortes no ano; essa foi a 8ª redução seguida da taxa básica,
cuja flexibilização começou em julho do ano passado
Como
era amplamente esperado entre analistas de mercado, o Comitê de Política
Monetária do Banco Central (Copom) anunciou nesta quarta-feira,17, mais
um corte de 0,75 ponto percentual (p.p.) na Selic, taxa básica de
juros da economia, que foi de 3% a 2,25% ao ano, uma nova mínima histórica.
Trata-se
da oitava redução consecutiva da Selic, cujo atual ciclo de queda começou em
julho do ano passado.
No
comunicado, o comitê diz que a magnitude do estímulo monetário já implementado
até aqui parece compatível com os impactos econômicos da pandemia. Mas não
descarta novos cortes:
“Para
as próximas reuniões, o Comitê vê como apropriado avaliar os impactos da
pandemia e do conjunto de medidas de incentivo ao crédito e recomposição de
renda, e antevê que um eventual ajuste futuro no atual grau de estímulo
monetário será residual”, diz.
Alberto
Ramos, do Goldman Sachs considera bastante dúbia a sinalização do colegiado,
mas aposta em mais um corte, dada às repetidas referências no comunicado sobre
a inflação controlada no horizonte relevante para a política monetária:
“No
geral, a orientação que fica é que o BC deixa a porta aberta para um possível
corte menor adicional na próxima reunião (-0,25 p.p. ou mesmo -0,50p.p.), a
depender de dados sobre o ritmo da economia”, diz o analista de América Latina
da instituição.
O
aceno foi a grande novidade da reunião, para Étore Sanchez, economista-chefe da
Ativa Investimentos. Mas, segundo ele, apesar de o BC não descartar futuras
correções, condiciona novos cortes a uma possível piora do cenário, o que, em
sua previsão, não deve ocorrer:
“É
evidente que os sinais ainda precisam ser monitorados, mas nosso cenário
contempla a perspectiva de recuperação gradual ao longo de junho e do segundo
semestre”, diz Sanchez.
O
economista mantém, portanto, sua expectativa para que a Selic fique mantida em
2,25% a.a. até o fim de 2020, em linha com o que é esperado no resto do
mercado, segundo o Boletim Focus. Para o ano que vem, a mediana das previsões
caiu a 3% no último levantamento.
Nesta
semana, o IBGE divulgou que as vendas do comércio varejista recuaram 16% em
abril e no setor de serviços, 11,7%, quedas recordes que se somam à contração
de 18% na indústria no mês. Com a reabertura do comércio em diversas regiões
brasileiras, alguma melhora é esperada em maio e junho.
Na
reunião passada, em maio, quando o BC anunciou corte de 0,75 (p.p.), levanto a
taxa a 3%, havia sinalizado que faria outro de mesma magnitude na Selic agora,
o que completaria o estímulo necessário como reação aos efeitos econômicos da
covid-19.
Desde
a então, houve um agravamento significativo do surto viral no país,
deterioração das expectativas de crescimento, queda das expectativas de
inflação de curto e médio prazo.
A
inflação em níveis historicamente baixos também favorece o movimento de queda
nos juros. Em maio, o IPCA veio negativo pelo segundo mês
seguido. No acumulado de 12 meses até março, o IPCA teve alta de 1,88%, de
2,40% antes, abaixo da meta de inflação de 4% do governo para 2020, que
tem tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Pouca
eficiência
Ao
reduzir os juros, o Banco Central dá condições para que haja mais recursos no
mercado. Em meio à situação excepcional de pandemia, porém, estímulos
tradicionais podem não ter o efeito esperado, o que tem feito com que a
política monetária aqui e lá fora percam potência.
Mesmo
com recursos disponíveis, os bancos adotam uma posição cautelosa e param de
emprestar devido ao maior risco de inadimplência em um cenário de alta do
desemprego, queda da renda e risco de falências. Essa tem sido uma das maiores
reclamações de pequenos empresários que tentam se financiar para atravessar este
período mais agudo: o dinheiro não chega na ponta.
O
Ministério da Economia tem recebido dados mostrando que a liberação de
crédito “travou no meio do caminho” pela regulamentação do setor
bancário, disse o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, nesta terça.
Veja o
comunicado do Copom na íntegra:
Em sua
231ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade,
reduzir a taxa Selic para 2,25% a.a.
A
atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes
observações:
No
cenário externo, a pandemia da Covid-19 continua provocando uma desaceleração
pronunciada do crescimento global. Nesse contexto, apesar da provisão
significativa de estímulos fiscal e monetário pelas principais economias e de
alguma moderação na volatilidade dos ativos financeiros, o ambiente para as
economias emergentes segue desafiador;
Em
relação à atividade econômica, a divulgação do PIB do primeiro trimestre
confirmou a sua maior queda desde 2015, refletindo os efeitos iniciais da
pandemia. Indicadores recentes sugerem que a contração da atividade econômica
no segundo trimestre será ainda maior. Prospectivamente, a incerteza permanece
acima da usual sobre o ritmo de recuperação da economia ao longo do segundo
semestre deste ano;
O
Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente se encontram abaixo
dos níveis compatíveis com o cumprimento da meta para a inflação no horizonte
relevante para a política monetária;
As
expectativas de inflação para 2020, 2021 e 2022 apuradas pela pesquisa Focus
encontram-se em torno de 1,6%, 3,0% e 3,5%, respectivamente;
No
cenário híbrido, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus
e taxa de câmbio constante a R$4,95/US$*, as projeções do Copom situam-se em
torno de 2,0% para 2020 e 3,2% para 2021. Esse cenário supõe trajetória de
juros que encerra 2020 em 2,25% a.a. e se eleva até 3,00% a.a. em 2021; e
No
cenário com taxa de juros constante a 3,00% a.a. e taxa de câmbio constante a
R$4,95/US$*, as projeções situam-se em torno de 1,9% para 2020 e 3,0% para
2021.
O
Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores
de risco em ambas as direções.
Por um
lado, o nível de ociosidade pode produzir trajetória de inflação abaixo do
esperado. Esse risco se intensifica caso a pandemia se prolongue e provoque
aumentos de incerteza e de poupança precaucional e, consequentemente, uma
redução da demanda agregada com magnitude ou duração ainda maiores do que as
estimadas.
Por
outro lado, políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória
fiscal do país de forma prolongada, ou frustrações em relação à continuidade
das reformas, podem elevar os prêmios de risco.
Adicionalmente,
os diversos programas de estímulo creditício e de recomposição de renda,
implementados no combate à pandemia, podem fazer com que a redução da demanda
agregada seja menor do que a estimada, adicionando uma assimetria ao balanço de
riscos. Esse conjunto de fatores implica, potencialmente, uma trajetória para a
inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.
O
Copom avalia que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na
economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia.
O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas
e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas
podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.
Considerando
o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações
disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa básica de juros
em 0,75 ponto percentual, para 2,25% a.a. O Comitê entende que essa decisão
reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a
usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação
para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2021.
O
Copom entende que, neste momento, a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo
monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que o espaço remanescente
para utilização da política monetária é incerto e deve ser pequeno. O Comitê
avalia que a trajetória fiscal ao longo do próximo ano, assim como a percepção
sobre sua sustentabilidade, são decisivas para determinar o prolongamento do
estímulo.
Neste
momento, o Comitê considera que a magnitude do estímulo monetário já
implementado parece compatível com os impactos econômicos da pandemia da
Covid-19. Para as próximas reuniões, o Comitê vê como apropriado avaliar os
impactos da pandemia e do conjunto de medidas de incentivo ao crédito e
recomposição de renda, e antevê que um eventual ajuste futuro no atual grau de
estímulo monetário será residual. No entanto, o Copom segue atento a revisões
do cenário econômico e de expectativas de inflação para o horizonte relevante
de política monetária. O Comitê reconhece que, em vista do cenário básico e do
seu balanço de riscos, novas informações sobre a evolução da pandemia, assim
como uma diminuição das incertezas no âmbito fiscal, serão essenciais para
definir seus próximos passos.
Votaram
por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto
(presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fernanda Feitosa
Nechio, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro
Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.
*Valor
obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio
R$/US$ observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana
anterior à da reunião do Copom.
Fonte:
Exame. https://exame.com/economia/banco-central-reduz-selic-em-075-ponto-e-juros-vao-a-225-ao-ano/